As dores no pé, além de bastante frequentes, são o sintoma comum de diversas patologias com as mais variadas causas. Fraturas, inflamações ou deformações podem afectar tendões, ossos, ligamentos ou cartilagens, originando uma miríade de patologias. Dissecamos as mais frequentes neste artigo.
As dores no pé são um transtorno bastante mais frequente do que se imagina e um sintoma comum de diversas patologias das estruturas músculo-esqueléticas dos pés.
As patologias dos pés não escolhem género nem idade, mas existe uma prevalência clara em adultos acima dos 40 anos bem como alguns factores de risco que potenciam, muito, as patologias causadoras de dores no pé, dos quais se destacam:
- O tipo de pisada
Dependendo de onde a força é exercida a cada passada, a pisada pode ser neutra, pronada ou supinada; estas duas últimas resultam da aplicação desequilibrada de força, respectivamente, para dentro ou para fora.
- Curvatura do pé
A curvatura demasiado acentuada do pé (pé cavo) ou a falta dela (pé chato) alteram a natural distribuição da carga dos movimentos, bem como a absorção dos impactos com o solo.
- A sobrecarga de peso
O excesso de carga pode acontecer em pessoas com excesso de peso ou no decorrer de actividades profissionais e desportivas que sobrecarregam os pés.
- Calçado desadequado
O uso prolongado de sapatos de baixa qualidade, de salto alto, apertados ou com biqueiras estreitas, promovem a sobrecarga e potenciam deformações ósseas.
Durante a gravidez também podem ser sentidas dores nos pés em consequência do aumento de peso, da má circulação sanguínea e do inchaço das pernas e pés, geralmente mais intenso ao fim do dia.
14 patologias ou doenças causadoras de dores no pé
1. Fascite Plantar
É a inflamação da fáscia plantar, tecido conjuntivo fibroso na parte inferior do pé que se estende do osso do calcanhar até aos dedos. Provoca uma dor súbita e aguda, sobretudo ao pousar o pé no chão após longos períodos de repouso. Pode irradiar a outras zonas do pé e tende a diminuir com o movimento, embora também possa manifestar-se em repouso.
Particularmente notória e intensa durante os primeiros passos após acordar, pode ser forte ao ponto de incapacitar a marcha. A sua evolução pode levar a vermelhidão e inchaço.
2. Entorse
Na prática, é uma lesão nos ligamentos do tornozelo – daí chamar-se entorse do tornozelo – e resulta, por norma, de um mau jeito vulgarmente designado por “torcer o pé”. Casos ligeiros de entorse caracterizam-se por estiramentos igualmente ligeiros; já estiramentos extensos, pequenas rupturas ou ruptura total dos ligamentos estão entre os casos mais graves. Em qualquer dos casos, é indispensável a avaliação por parte de um ortopedista, já que outras pequenas lesões podem estar camufladas pelos sintomas comuns da entorse.
A intensidade da dor varia de moderada a incapacitante e, embora se manifeste sobretudo ao nível do tornozelo, pode irradiar ao pé e mesmo à perna. Associado à dor, é frequente ocorrer também inchaço do tornozelo.
Desportos que requerem movimentos de grande amplitude ao nível dos pés e mudanças bruscas de direcção – como futebol, por exemplo – são particularmente agressivos para esta estrutura anatómica e, portanto, um ambiente propício à ocorrência de entorses.
Neste artigo, abordamos as entorses mais detalhadamente.
3. Tendinites
Tendinite significa inflamação dos tendões. Nos pés existem dois tipos de tendinite que merecem especial atenção.
- Tendinite dos extensores do pé: é a inflamação que ocorre com maior frequência no tendão do dedo grande do pé, denominado extensor do hallux. Manifesta-se por dor no peito do pé.
- Tendinopatia do Aquiles: inflamação do tendão de Aquiles, o mais forte do corpo humano e que se estende da parte posterior do calcanhar à barriga da perna. A designação tendinopatia é um pouco mais abrangente do que a tendinite, incluindo também micro rupturas no tendão. Quanto mais grave for a lesão, mais intensa será a dor sentida na parte posterior do calcanhar ou da perna. Em caso de ruptura – parcial ou total – do tendão, a dor pode ser incapacitante. Movimentos repetitivos, exercício físico demasiado intenso, desequilíbrios na pisada ou obesidade são apenas alguns dos factores que podem levar a este tipo de tendinite.
4. Disfunção do tendão tibial posterior
Tem como principais sintomas dor no calcanhar e no tornozelo (dor referida). Afecta com mais frequência os praticantes de desporto, em particular de atletismo. Caracteriza-se pela incapacidade do tendão em elevar a arcada plantar, a sua função natural, resultando na redução gradual da curvatura do pé até, eventualmente, atingir o nível de pé chato, como é comumente chamado.
5. Pé Diabético
É, como o nome indica, uma complicação decorrente da diabetes, geralmente devido a um tratamento deficitário. Caracteriza-se pelo aparecimento de feridas, dor intensa e uma maior propensão para o desenvolvimento de infecções.
6. Joanete
É uma saliência óssea decorrente da deformação dos dedos dos pés, provocada em grande parte pelo uso de calçado desconfortável, de frente estreita ou bicuda, por exemplo. Atinge, portanto, maioritariamente mulheres e incide sobretudo no dedo grande do pé mas também pode acontecer no dedo mindinho.
O joanete tende a piorar com o tempo, acentuando-se a deformação óssea e surgindo, assim, a dor, de intensidade variável. Por vezes, também pode existir vermelhidão e inchaço na região afectada.
7. Artrite Gotosa
Conhecida também como “gota”, é uma doença reumática inflamatória, na qual ocorre a acumulação de ácido úrico nas estruturas articulares e cuja sintomatologia é muito semelhante à do joanete. Afecta, sobretudo, homens adultos e mulheres após a menopausa.
8. Bursite
É a inflamação de uma ou várias bursas calcaneanas – pequenas bolsas de líquido sinovial cuja função é a lubrificação dos vários elementos da estrutura musculoesquelética, neste caso, do pé. Provoca dor ao nível do calcanhar, em especial durante a marcha e em movimentos que impliquem o tornozelo. Casos graves podem sofrer dores lancinantes, muito violentas, mediante o exercício de pressão na zona afectada.
9. Esporão do Calcâneo
O calcâneo é o maior osso do pé e tem como função suportar o peso do corpo e amortecer o seu impacto com o solo. O esporão é uma deformidade óssea que resulta do crescimento anómalo do calcâneo, na maioria dos casos na parte de baixo do calcanhar, e que provoca uma saliência na sola do pé. Pode também ocorrer na região do tendão de aquiles, sendo contudo menos frequente. Não é visível externamente nem provoca dor por si só. No entanto, está quase sempre associado à existência de fascite plantar, que se manifesta por dores intensas no calcanhar quando se exerce pressão sobre ele, nomeadamente ao caminhar. Não é raro que calcanhar e tornozelo sofram também edema.
10. Neuroma de Morton
Esta doença manifesta-se pelo surgimento de um nódulo fibroso no nervo digital plantar, mais frequentemente no espaço interdigital entre o terceiro e o quarto dedos do pé.
Neste caso, a dor é sobretudo localizada na parte superior do pé, junto aos dedos e caracteriza-se por uma sensação semelhante a choques elétricos ou queimadura. Surge no decorrer da marcha e agrava-se com o aumento de actividade – caminhar ou praticar desporto – bem como com o uso de calçado anatomicamente prejudicial.
Tal como os joanetes, é mais frequente em mulheres com mais de 50 anos, devido ao uso de calçado inadequado, sendo também bastante comum em atletas.
11. Fracturas
Embora sejam, na sua maioria, provocadas por traumatismos, podem também ser derivadas de movimentos repetitivos ou actividade física em excesso. Nesse caso, denominam-se fracturas de stress e são mais comuns em pessoas que sofrem de obesidade. Destas, destaca-se a fractura do calcâneo, sobretudo em desportistas com mais peso e sem calçado desportivo adequado, manifestando-se a dor em movimento.
12. Síndrome do túnel társico
Esta patologia afecta o nervo tibial posterior, localizado no túnel do tarso, canal localizado na parte de dentro do tornozelo e cuja função é proteger as estruturas que o atravessam: artérias, veias, tendões e nervos. A compressão do túnel társico resulta, consequentemente, na compressão do nervo e cujos principais sintomas são: formigamento e perda de sensibilidade, sobretudo durante a noite.
13. Sesamoidite
Particularmente frequente em praticantes de desportos de alto impacto com o solo – atletismo, ginástica e dança, por exemplo – refere-se a alterações, nomeadamente fracturas, em dois pequenos ossos, os sesamóides, que se encontram junto à articulação que une o pé ao dedo grande. É precisamente por baixo do dedo grande que se manifesta a dor.
14. Doença de Sever
Também conhecida como osteocondrite, afecta com frequência crianças e jovens até aos 15 anos. Associada a esforços físicos, tende a desaparecer naturalmente após a maturação óssea, quando as cartilagens de crescimento solidificam e se tornam ossos sólidos. No pé incide no calcanhar, podendo em alguns casos levar à fragmentação e alargamento do calcâneo. Obesidade, pisada pronada e dismetria dos membros inferiores são alguns dos factores de risco identificados no surgimento desta patologia.
Causas indirectas de dor no pé
Para além das patologias abordadas acima e cuja origem está localizada especificamente no pé ou regiões vizinhas, existem muitas outras doenças que se podem manifestar de forma referida nos pés:
- Artrite
- Artrose
- Hérnia discal
- Sarcoidose
- Osteomielite
- Doença de Paget
- Síndrome de Reiter
- Doença de Freiberg
O diagnóstico das dores no pé
A sub-especialidade ortopédica de Pé e Tornozelo é a indicada para avaliar e acompanhar as diferentes patologias que afectam estas estruturas. Uma consulta com um médico ortopedista é, por isso, indispensável. A nossa equipa clínica sub-especializada no Pé e Tornozelo é composta pelo Dr. Luís Simões de Almeida e pelo Dr. João Protásio, que acompanharão de perto cada paciente.
Ao exame clínico e ao historial médico de cada doente, aliam-se os exames complementares de diagnóstico, ferramentas de extrema utilidade para um diagnóstico exacto e tão rápido quanto possível. Nas nossas instalações é possível realizar qualquer um dos exames necessários, com total conveniência:
- Radiografia
- Ecografia
- Tomografia Axial Computorizada (TAC)
- Ressonância Magnética (RMN)
- Análises Laboratoriais
- entre outros
O tratamento das patologias do pé
Descanso, massagens e aplicação de gelo são as primeiras medidas a tomar para aliviar as dores no pé. Além disso, alguns ajustes no seu dia a dia podem ser muito benéficos para a sua saúde, no geral, e a dos seus pés, em particular:
- Privilegiar calçado de qualidade, confortável e flexível
- Evitar permanecer muito tempo em pé
- Exercitar os pés ao longo do dia, com movimentos suaves rotativos e de flexão
- Massajar os pés com creme hidratante, óleo (ou uma pomada anti-inflamatória, se necessário)
Em caso de dor frequente que não alivia em pouco tempo seguindo as indicações acima, deverá consultar um médico ortopedista. Só um profissional especializado poderá efectuar um diagnóstico preciso e prescrever o tratamento mais adequado à patologia ou doença em questão. Este poderá incluir medicação, nomeadamente com recurso a anti-inflamatórios, mas não só.
Muitas situações beneficiam do tratamento fisioterapêutico, aconselhado pelo médico ortopedista e devidamente orientado por um equipa especializada de Fisioterapia. Quando se verifica esta necessidade, também é possível realizar as sessões de fisioterapia sem sair das nossas instalações. Conheça-as aqui.
Outros casos exigem a utilização de ortóteses, como palmilhas, botas imobilizadoras ortopédicas, talas de estabilização, entre outras.
Como último recurso está a cirurgia, sendo realizada numa minoria de casos e apenas quando a abordagem terapêutica convencional não apresenta os resultados desejados.
Lembre-se: procurar ajuda médica atempada é a melhor forma de detectar e tratar a causa das dores no pé antes que a mesma evolua para dor crónica. Marques já a sua consulta.