A imobilização com gesso é a técnica mais comum para traumas ortopédicos, dos quais as fracturas são as lesões mais conhecidas. Gessar os segmentos corporais lesionados é, contudo, apenas a primeira etapa de um processo de recuperação que pode durar entre algumas semanas e vários meses.
E se é óbvio que uma boa imobilização é essencial, não é imediato que a parte fulcral de um tratamento bem sucedido acontece em casa: a correcta manutenção do molde de gesso. Neste artigo, mostramos-lhe os cuidados a ter com um membro engessado, bem como os sinais aos quais se deve manter atento.
A aplicação de gesso é uma técnica de imobilização ortopédica, a que também se chama imobilização gessada, realizada por um profissional de saúde qualificado, para tratar fraturas, entorses e luxações, entre outros traumas ortopédicos.
A imobilização com gesso consiste em envolver as áreas afectadas com ligaduras de gaze de algodão, impregnadas com gesso coloidal, que se moldam quando molhadas; ao secar, tornam-se duras e resistentes. O objectivo é impedir qualquer tipo de movimento dessas estruturas musculoesqueléticas, após estabilização e reposicionamento das mesmas, e até ao seu total restabelecimento.
É fácil perceber que grande parte da eficácia deste tipo de imobilização depende da perícia de quem a executa. Mas, já em casa, é a manutenção do gesso que se revela crucial no desenrolar esperado do tratamento.
Mostramos-lhe aqui como cuidar de um membro engessado:
1. Não molhe o gesso e proteja-o da humidade
Existem actualmente coberturas específicas, muito eficazes e práticas, para proteger os moldes de gesso. Algumas permitem um efeito de vácuo ainda mais eficiente. Em alternativa, pode utilizar alguns métodos caseiros para o efeito:
– Envolver o membro engessado num saco plástico (verifique que não apresenta nenhum corte ou furo), vedando perfeitamente a abertura com elásticos ou fita adesiva.
– Utilizar película aderente para cobrir na totalidade o molde de gesso, em várias camadas, para garantir que não ficam espaços desprotegidos. Vede-o de igual forma.
Em qualquer dos casos, deverá ainda colocar um pano ou uma toalha à volta da(s) extremidade(s) para evitar que entre água para o interior do gesso.
Este cuidado é essencial e torna-se ainda mais importante na hora do banho, pelo que detalhamos este tema mais abaixo.
2. Não coloque nada dentro do gesso.
Acessos de comichão são muito frequentes na zona engessada. No entanto, não deve utilizar objectos pontiagudos, nem tentar colocar pó de talco ou cremes para aliviar o desconforto, já pode causar ferimentos ou irritações na pele. Se necessário, utilize o secador de cabelo na opção de frio para aliviar a comichão.
3. Não bata no/com o gesso.
É importante evitar traumatismos e rachas no gesso. Poderá provocar dor e edema na área imobilizada, o que prejudicará a recuperação da lesão primária.
4. Vigie diariamente a pele à volta do gesso.
Se notar alguma vermelhidão ou nódoa-negra contacte de imediato o seu médico.
5. Mexa frequentemente os dedos do(s) membro(s) imobilizados.
Ao longo do dia, movimente com regularidade os dedos da mão ou do pé para promover a circulação sanguínea.
6. Estimule os músculos próximos à região engessada
Contrair os músculos que flectem o joelho, no caso das pernas, e os músculos que flectem e estendem o cotovelo, no caso dos braços, ajuda a combater a atrofia e rigidez muscular.
7. Se notar as extremidades do gesso ásperas forre-as com fita adesiva suave ou outro tecido macio de forma a não lesionar a pele.
8. Eleve o gesso regularmente, conforme as instruções do médico (geralmente, acima do nível do coração) para controlar o inchaço.
9. Em repouso, apoie e mantenha o gesso elevado.
Pouse-o cuidadosamente sobre uma almofada para que a extremidade do gesso não se afunde na pele nem a aperte. Além disso, para dormir, mantenha-o acima do plano da cama.
Truques e tácticas para a hora do banho
Como referido acima, quando tomar banho, os moldes de gesso devem ser protegidos da melhor forma possível. Mas, porque ainda assim há sempre o risco de entrada de água pelas extremidades do gesso, o ideal é que, além de coberto, o mantenha o mais possível longe da água. Ou seja, mais vale prevenir a dobrar.
– As banheiras são mais práticas no caso de ter um braço partido, pois basta colocá-lo na beira da banheira enquanto lava o resto do corpo.
– Banhos de espuma são práticos, rápidos e muito menos propícios a molhar o gesso. Privilegie-os em relação aos banhos de imersão ou de chuveiro.
– Tome banho sentado. No caso de ter uma perna partida e uma cabine de duche, pode colocar uma cadeira no seu interior. Aconselhe-se, no entanto, com o seu médico para que lhe indique o tipo de cadeira mais indicado. Em todo o caso, qualquer cadeira deverá:
– ser firme e sólida;
– ficar assente num tapete antiderrapante para evitar que deslize;
– ser testada previamente por outra pessoa.
Ao sentar-se, posicione-se de costas para o duche e a cadeira, e apoiando-se em algo firme como as laterais da cabine de duche, baixe-se devagar até se conseguir sentar na cadeira. Coloque a perna o mais afastada possível da água.
Antes do banho coloque a toalha à mão para que possa secar-se ainda sentado. Assim, evita ter as mãos e os pés escorregadios quando se levantar.
Para sair do duche, apoie-se em algo firme e levante-se devagar e cuidadosamente.
O que fazer caso se molhar acidentalmente o gesso?
Seque-o o mais rápido possível com ajuda de um secador de cabelo na opção de frio.
Contacte também o seu médico, já que poderá ser necessário trocar o molde de gesso a fim de evitar infecções ou ferimentos na pele.
Além dos cuidados essenciais a ter com o gesso, também deverá estar alerta para eventuais sinais que poderão indiciar que algo não está bem.
Assim, é importante lembrar que a imobilização gessada não deve causar dor para além da decorrente do próprio traumatismo. Contacte-nos de imediato caso sinta:
– dor persistente provocada ou agravada pelo gesso;
– dormência ou fraqueza do membro engessado;
– mudança de cor dos dedos;
– o gesso demasiado apertado;
– odor anormal ou mau cheiro vindo do gesso;
– manchas no gesso;
– febre.