A artrose da base do polegar, ou rizartrose, é uma patologia muito comum. Aproximadamente 40% das mulheres pós-menopausa apresentam alterações radiográficas na base do polegar, 10% procuram tratamento médico e 1% têm patologia avançada ou grave. É mais comum em mulheres com mais de 50 anos, mas pode dar queixas iniciais mais cedo e é menos comum em homens..
Cargas anormais através da articulação fazem com que a cartilagem articular se desgaste, dando origem às queixas. Nas mulheres, muitas vezes não há uma causa identificável, podendo haver alguma predisposição pessoal para esta doença, até porque pode por vezes ser mais desenvolvida na mão não dominante. Nos homens, é muito frequente após uma fractura que envolva a articulação e que gere irregularidades na cartilagem.
Dor bem localizada na base do polegar, perto do punho, é o sintoma mais comum. As queixas surgem muitas vezes com o desenroscar de tampas de frascos ou virtualmente em qualquer actividade que envolva pinça ou preensão. É comum deixar cair objetos devido à dor.
Os achados típicos são um inchaço ósseo, mais aparente em casos avançados, e a palpação da base do polegar é dolorosa.
Testes específicos incluem o grind test axial, pelo qual o polegar é empurrado ao longo do seu eixo longo para a base do polegar, tentando provocar dor; o teste de redução e deslocamento envolve pressionar a base do polegar com uma mão, enquanto se faz a circundução da extremidade do polegar com a outra mão, pesquisando dor e crepitação.
O raio-X é suficiente para confirmar o diagnóstico e mostra o estreitamento da articulação e a típica formação de osso (osteófitos ou “bicos de papagaio) em resposta ao desaparecimento da cartilagem.
– Repouso, com o uso de uma tala específica, removível;
– Medicação com anti-inflamatórios, analgésicos e protectores de cartilagem;
– Infiltração intra-articular com um corticosteróide (geralmente, uma ou duas no máximo);
– Fisioterapia.
Quando as queixas são importantes e o tratamento conservador não resulta, está indicado o tratamento cirúrgico. Há várias técnicas cirúrgicas, mas todas têm como objectivo remover as superfícies articulares para retirar a principal das dores:
– Trapezectomia e interposição tendinosa. É a técnica clássica e a mais utilizada no mundo. Consiste em retirar o osso trapézio e interpor na articulação um tendão “dispensável”colhido no antebraço.
– Trapezectomia parcial artroscópica e suspensão do polegar: é uma técnica recente, menos invasiva.
– Artrodese trapezometacárpica: consiste em eliminar o movimento da articulação desgastada.
A decisão quanto à técnica depende da idade, expectativas e necessidades do doente, bem como do grau de evolução da artrose.
A cirurgia é feita sob anestesia geral ou de todo o membro superior e demora cerca de 60 minutos.
A pele é encerrada com suturas absorvíveis e é normalmente necessário um período variável de imobilização com uma tala de gesso ou similiar.
O doente pode ir para casa logo após a operação, geralmente no mesmo dia.
Os analgésicos prescritos geralmente controlam a dor no pós-operatório e devem ser iniciados após a alta. A mão deve ser elevada, tanto quanto possível, durante os primeiros 5 dias, para prevenir o inchaço.
A tala gessada é mantida durante 3 a 4 semanas, período após o qual se passa a uma tala amovível e se inicia a reabilitação.
As suturas geralmente são absorvíveis e enterradas sob a pele.
A fisioterapia irá ajudar a recuperar a mobilidade e a força, de forma gradual.
Após 2 a 3 meses, os doentes valorizam o resultado da cirurgia, nomeadamente pelo desaparecimento ou alívio muito significativo da dor que tinham, mas os resultados tendem a continuar a melhorar até ao ano de pós-operatório, à medida que o polegar se fortalece.
Condução: a mão precisa de ter controlo total sobre o volante ou alavanca de mudanças. É aconselhável atrasar o regresso à condução até que se esteja livre de dor e se possa controlar um carro numa emergência, o que pode tardar cerca de 8 semanas, embora todos sejam diferentes e alguns doentes se sintam seguros antes disso.
Trabalho: depende do ambiente de trabalho de cada pessoa. O regresso ao trabalho manual pesado só pode acontecer, no mínimo, passadas 8 semanas.
Em geral, mais de 95% dos doentes ficam totalmente satisfeitos com o resultado. Contudo, podem ocorrer complicações.
Existem complicações específicas para a esta cirurgia e também complicações gerais associadas à cirurgia da mão.
Complicações gerais:
– Infecção (muito rara);
– Nevroma/lesão nervosa;
– Dormência;
– Cicatriz incómoda/dolorosa/hipertrófica;
– Inchaço;
– Equimose;
– Rigidez;
– Síndrome de dor regional complexa (1-2%; reação rara à cirurgia com mãos rígidas e dolorosas – pode ocorrer com qualquer cirurgia da mão, desde um procedimento menor até outro mais complexo).
Complicações específicas:
– Falha em resolver completamente os sintomas (pode ocorrer por libertação incompleta do tendão – é raro acontecer, mas pode exigir nova cirurgia);
– Lesão de um dos nervos e/ou vasos colaterais dos dedos;
– Cicatriz incómoda durante algumas semanas a meses.
“Chamo-me Francisco Mercier e nasci no Porto em 1981. Licenciei-me em Medicina pela Universidade de Coimbra em 2005 e especializei-me em Ortopedia nos Hospitais da Universidade de Coimbra em 2013.”